terça-feira, 5 de maio de 2009

Ao pó permanecerá

Pode falar: o que é que você tem?
Além de Deus ter-me feito com desdém?
Nada. Nada que eu não resolva com café.
Nada que não se resolva com um pouco de fé.

Mas se eu perdi tempo, então hei de ir a pé.
Até achar o tempo, tempo que me disse até.

Que o melhor é estar em transe
Que a vida é estar em trânsito
Parar intensamente e recomeçar a andar.

Andar. A pé, ao léu...
Transitar. Até ao céu...

Pode falar: o que é que você teve?
Você não é Deus? O que é que te deteve?
Teve? Teve até uma desculpa...
- Desculpa, mas foi só.
Nem amor, nem o rancor. E foi só.
Você nasceu e nem deixou de ser pó!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Por entre a fumaça e o vinho
Por dentre os sons sem equilíbrio d'alta-noite
Ébrios
Deuses
Sonhos
Todos
Mundos
Corpos
Copos de leite
Doce deleite
Sonhar...

Ébrios ares
acres, doces
hálitos
fosse o vinho filante...

Deuses deram
o toque feiticeiro
e o tato inteiro tinha o cheiro
deleitoso do delírio.
Como lírios, papoulas
pelos
poros
florescia o louro dourado dos sonhos.
Caminhavam na escuridão
tornando sonho o que era chão!

Era arredia a onírica terra:
como a hera,
espalhou-se o espaço
debaixo dos seus pés...

Do espectral teatro
encenou -se o ato de despertar.
Tão perto o peito arfante,
Repleto antes de cor que de ar,
quedou-se do medo
vaporosamente em minha digital,
No curto silêncio dos meus dedos.

Ao som do susto
tateei com custo
meu próprio rosto,
meu próprio corpo.
E fui encontrá-los
nos olhos que me fitavam
Faziam fita, faziam cena,
fariam até cinema se soubessem cantar
os meus sentidos.

Perdido pelo alheio devaneio,
Num enleio entrelaçado
d'um permeio de loucura e fado,
de mãos dadas com as fadas da Beleza
Rompi a tísica vida,
Metafísica ferida,
pelas tuas unhas
quebrei a incerteza de estar sano;
Do meu crânio trouxe os negros panos,
trouxe os pratos,
pra vestir e mastigar
o alimento e o sustento.
Tirou o pó,
pôs retrato,
E fez de fato
Meu sopitado lar
a quimera além-matéria
de poder-te etérea,
eternamente
tocar.

Escrito por Carlos Batata, em um momento em que minhas mãos ficaram sem ar. Comentário de Isadora Machado.

Uma poesia onírica, talvez.
Postado originalmente em http://misantropolis.zip.net/index.html