sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Encontro com o sol

Não é do meu feitio, mas aqui vai uma sincera homenagem.

Texto de Ramando Carvalho (http://ramandocarvalho.blogspot.com/)

"Tudo reluzia, os dentes imprimiam uma estranha imponência, como se as máquinas quisessem mostrar suas forças ao destroçar o que há de mais belo no ser humano.

A paz é um tesouro mais precioso que o sol de um verão tropical.

A tremidão que toma conta do ambiente, deixa minha alma igualmente tremula, sabendo que alguma poção mágica preparada em algum recanto imaginário do universo, nos livrará do surto epilético alimentado por nós mesmos.

Neste lugar não se precisa mais olhar nos olhos, pois uma força amaldiçoada nos disse para nos vendarmos diante do inexplicável. Quanto maior a trapaça, mais maldade se vê, é preciso fugir, carregando um sofrimento que não é seu.

Ver o outro está coisa difícil, somente quando a luz iluminar.

Os movimentos denunciam uma luta vacilante, contra um inimigo que nasce das redes emaranhadas incapazes de se lançarem ao mar. Brota, como imensos pomares, a inclinação à pobreza, que se transforma em um esforço em se prender e termina em menosprezo pela liberdade. Neste fantasma, nesses vultos humanos, o encontro do puro não se dá senão fora daquilo que serve como construção de mais um andar em nossa torre desastrosa, que de alta, peca em cair no primeiro sopro. Habitá-la, faz ver que não há paredes, mesmo assim não se pode sair à rua, terá que pagar por estar diante das estrelas, e essa moeda de ouro caiu no ralo há tempos e se desfez nos labirintos dos esgotos.

Imensos canais invisíveis parecem ligar os fluidos elétricos à química de seus corpos, transformado seu sangue em ácido corrosivo, a pressão acelera, em ritmo impreciso.

As asas conduzem somente a lugares invernais. Neste mundo, ensaiar um sorriso é o mais perto que se chega de seu sonho.

É preciso dormir se quiser tocar sua alma, desperto toca somente suas sombras.

As folhas dos galhos mais altos do espírito humano, em difusa transformação, viram monitores que ostentam um colorido hipnótico, um plasma opaco que se espalha.

Derreter o ferro e cunhar chaves, abrir o paraíso por detrás de uma porta empenada e descascada.

Não me quero curar desse mal, nascer doente é a pior das heranças. Fincar ancora nos filhos e deixá-los engolir por uma água podre. Eis o orgulho dos marinheiros do progresso. Em um batera de madeira cintilante, cercada por rochedos, um velho enfeitado com tecidos nobres diz:

- Não é esse o caminho!Não é essa a embarcação!

Contornar o infinito e seguir sem medo, pois temer é a causa da fadiga, deitar-se receoso não é o mesmo que estender-se em dunas de areia fina. O florescimento dos mais lindos botões se dá nos solos cansados de serem explorados, estação após estação, que gritam para a chuva cair. A obrigação de encravar em meu próprio peito o punhal da desilusão, faz jorrar antes do golpe sangue prematuro. Nos ouvidos ingênuos ecoa: Faça escravo do seu homem! E os braços cadenciam uma dança cotidiana e traiçoeira. A tristeza se empilha. Há tempos houve um dia nebuloso, e no instante do desassossego, riscou-se na nuca de cada criatura na terra: É um. E não será outro.

Nesses dias, anjos subiram montanhas, e em lágrimas, morreram de frio.

O gosto de pertencer a mundos talhados em aço cru produz em minha boca saliva empedrada. Lança-las no crânio cibernético e matar a força rastejante, alma sorrateira. Desejo dos loucos. A pétala originaria colori os pedaços verdes que cheiram a choro. Somos flores plantadas em terra rasa. A realidade engoli sonhos como um andarilho que há dias sem comida repousa em banquete farto. Li em um outdoor: Cave um buraco nas nuvens e descanse sua voz fraca.

É preciso comprar uma pá, as unhas e os dedos não lhe servem mais. Da bebida sangue da morte, transformei em vermelho do amor. Que pintou como artista sedento, êxtases cores, em todos os véus. Escrevo em lugar nenhum, no recheio da angustia, que embaralha, desenlaça e contorce e aperta. Temos medo. Por que não? Deus aceita meu presente.

Ele mora no céu. Acende a brasa do desejo, e em fogo eterno, folga lânguido e onipotente. Da janela, sob sua coroa diz como que segredo afável:

- Foge! Encontre o sol."


Sem correções ortográficas, cada cal com seus erros e acertos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Maresia audível em terra à vista

Onda do mar
Barco a vela

Paleta de cor que rasga a tela
Pinta de dor o retrato dela
Faça parar, a mão que martela,
Meu coração...

Passe por aqui, Não deixe de vir,
Quero seu sorriso sempre assim,
Quero seu gingado sambalançado
Pra mim.

De ouro é sua sandália,
Dourada rua,
Beija o ouro
Com a prata da lua
Deixa chegar a Carnavália,
Minha pele,
Na tua...

(Em parceria com Lionel Braga Netto)