segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
O refluxo de um rio raso
Sonhou, certa vez, a menina, que estivéssemos nós, deitados, de mãos dadas, num rio raso.
O resto eu inventei: o sabor da água, o sabor do beijo, o sabor da lágrima...
Inventei que era noite, embora adormeça ao dia.
Inventei que o rio raso era o desamor. E que nós descansávamos nele...
Inventei que o descanso não maltratava. E que nós desferimos nossa pele.
Inventei que via o vento e sua canção. E que nós chorávamos juntos.
Inventei que era mau. E de fato o fui e sou. E que nós cortávamos os pulsos, e fazíamos o rio raso.
Sonhou certa vez a menina que eu, só eu, morria ao mar.
O resto eu retirei: o sabor da água, o sabor do espelho, o sabor da lástima.
Inventei que era eu e não ela, o barco do barqueiro.
Inventei que o rio raso me levou sozinho.E que eu era leve, ela não.
Inventei que desaguava de sonho em sonho. E que eu, tinha moedas demais pra navegar.
Inventei que naufragava dentro de mim mesmo. E que eu, era o rio raso, o barco e o mar.
Inventei que faltava-me, ainda, um pouco de (m)água. E que eu, beberia sem fim a alma das pessoas.
Despertou-me a sede, a escassez, desde que sonhou, certa vez, a menina, que estivéssemos nós, deitados, de mãos dadas, num rio raso.
O resto eu inventei.
Alteridade
Não nasci poeta.
Não.
Tão pouco tornei-me um.
Não me fiz poeta.
Não.
Tão pouco me diz um.
Não morri poeta.
Não.
Tão pouco assassinei-me um.
Não escrevi poemas.
Não.
Tão pouco declamei-me algum.
Nalgum poeta, morto,
sim,
deve estar minha alma.
Roubada.
Sem palavras.
Não.
Tão pouco tornei-me um.
Não me fiz poeta.
Não.
Tão pouco me diz um.
Não morri poeta.
Não.
Tão pouco assassinei-me um.
Não escrevi poemas.
Não.
Tão pouco declamei-me algum.
Nalgum poeta, morto,
sim,
deve estar minha alma.
Roubada.
Sem palavras.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Talvez
Eu' inda era
mas, agora há pouco,
eu deixei de ser.
Talvez eu erre
mas, ainda há pouco,
eu deixei de crer.
Talvez eu seja
mas, ainda há pouco,
eu parei pra ser
talvez um pouco mais,
um pouco mais,
um pouco mais,
de mim.
Talvez eu era
mas, ainda há pouco
eu deixei de ser.
Talvez eu erre
mas, agora há pouco,
eu deixei de crer.
Talvez eu seja,
mas, ainda há pouco,
mais ainda, há pouco
mais ainda, há pouco
mas, ainda,
mais ainda..
mas, ainda
mas, agora há pouco,
eu deixei de ser.
Talvez eu erre
mas, ainda há pouco,
eu deixei de crer.
Talvez eu seja
mas, ainda há pouco,
eu parei pra ser
talvez um pouco mais,
um pouco mais,
um pouco mais,
de mim.
Talvez eu era
mas, ainda há pouco
eu deixei de ser.
Talvez eu erre
mas, agora há pouco,
eu deixei de crer.
Talvez eu seja,
mas, ainda há pouco,
mais ainda, há pouco
mais ainda, há pouco
mas, ainda,
mais ainda..
mas, ainda
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