segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O refluxo de um rio raso


Sonhou, certa vez, a menina, que estivéssemos nós, deitados, de mãos dadas, num rio raso.

O resto eu inventei: o sabor da água, o sabor do beijo, o sabor da lágrima...

Inventei que era noite, embora adormeça ao dia.
Inventei que o rio raso era o desamor. E que nós descansávamos nele...
Inventei que o descanso não maltratava. E que nós desferimos nossa pele.
Inventei que via o vento e sua canção. E que nós chorávamos juntos.
Inventei que era mau. E de fato o fui e sou. E que nós cortávamos os pulsos, e fazíamos o rio raso.


Sonhou certa vez a menina que eu, só eu, morria ao mar.

O resto eu retirei: o sabor da água, o sabor do espelho, o sabor da lástima.

Inventei que era eu e não ela, o barco do barqueiro.
Inventei que o rio raso me levou sozinho.E que eu era leve, ela não.
Inventei que desaguava de sonho em sonho. E que eu, tinha moedas demais pra navegar.
Inventei que naufragava dentro de mim mesmo. E que eu, era o rio raso, o barco e o mar.
Inventei que faltava-me, ainda, um pouco de (m)água. E que eu, beberia sem fim a alma das pessoas.


Despertou-me a sede, a escassez, desde que sonhou, certa vez, a menina, que estivéssemos nós, deitados, de mãos dadas, num rio raso.

O resto eu inventei.

7 comentários:

  1. "inventei que naufragava dentro de mim mesmo"
    bonito batata.

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  2. "Inventei que o rio raso era o desamor. E que nós descansávamos nele..." creio que o desamor não exista, por isso o inventou no rio raso. Acertei ou criei mais uma possibilidade?

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  3. eu sempre invento...até que se torna real.
    maldita dádiva imaginativa!
    rsrsr
    muito bom.

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  4. Me permite agradecer?
    Se sim, muito, muito obrigada.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. belo poema...adoro Morpheus também...

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