quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Funeral de poeta visionário impressiona poeta cético e supersticioso.(nota de jornal que publica diariamente a sua última edição, sua última primavera)

Silêncio noturno,
soturno do poeta.

O outono (ou inverno),
monótono, monocromo,

trás a festa imodesta,
(com orquestras, cornetas,
liláses, sopros de trombeta,
sonatas d'um maestro antiprofeta),

traz, à testa, a besta,
sons de feras, capetas
vorazes corpos de poeta:

Sonetos gritos ante o funesto!

.................,........., ......................................................!
.................,.........., ....................................................!
................................................ ...
................................................ ...

.................,.....,......,...................................................!
...................................,............. ...
................................................ ...
................................................ ...

.....................................,..........................................!
....................................,............ ...
................................................ ...

...............................................................................!
................................................ ...
................................................ ...

Silêncio soturno,
noturno, de poeta.

Abstêmio (ou interregno?),
entre epitáfio e sirene

(sóóóó, sóóóó, sóóóó...)

Assaz silêncio'inda resta...
Nos restam, flores pretas,
vivas!, louros!, -- te enfeita!,
põe gravata!, faixa preta!.

Faz silêncio! Vê se empresta,
tons de dor, de tristeza,
aos vivazes olhos pretos
que na caixa jazem, abertos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Fazem certo em vigiar,
a vigília ainda perto
nem descansa, nem desfaz,
o poeta, os olhos quietos.

O poeta é morto, por decerto é.
O poeta é morto, por decreto é.

Silêncio noturno,
soturno do poeta,

A absconsa mal alumia,
mas no pouco lume via,
absconso, irreal, dormia,
secreto visual zumbi nos olhos mortos e vivos do poeta.

Viva! As moscas zumbindo sobre o cádaver exposto!
Viva! As moças chorando sobre os cadernos brancos!
Viva! As louças, sândalos, cobres, ternos e bancos!
Viva! As loucas delirando sob a morte, os fatos!

Terão seu prato, as moscas.
Darão seu pranto, as moças.
Levarão tanto, tantos bancos.
Serão santas, as loucas...


Eu? ...morro que só.
E depois? Verão....

O Silêncio noturno!
Soturno do poeta!

(08 de setembro de 2007)

"Que sabe a aranha a respeito de Mozart? Nada; entretanto, ouve com prazer uma sonata do mestre. O gato, que nunca leu Kant, é talvez um animal metafísico"

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